OS TEMPOS DE SALVADOR
Em um cartão-postal de final do século XIX, se vê uma clássica imagem de fotografia urbana do início da Ladeira de São Bento no Centro Histórico de Salvador (hoje Av. 7 de Setembro), sobre esta foto está sobreposta outra em que mostra o rosto de um carregador que era uma das pessoas escravizadas que foram trazidas do continente africano para o Brasil, acredita-se, na descrição da imagem, que ele já estava livre desta condição que lhe foi imposta. Este homem foi fotografado em estúdio pelo fotógrafo Rodolpho Lindemann, que estava entre os empreendedores inicias deste ramo, na cidade. Estes primeiros fotógrafos montavam seus estúdios na cidade e anunciavam seus serviços exclusivos nos jornais. Mas Lindemann foi vítima de uma fatalidade: um incêndio provocou a destruição do prédio onde ficava seu estúdio, já transferido para a Praça da Piedade. Este incêndio destruiu um patrimônio fotográfico que registrou as praças, ruas, edifícios, famílias e toda sorte de eventos do cotidiano da cidade e também de celebridades da época.
Poucos anos antes, não foi fatalidade a destruição de outro acervo com a história da cidade. Em razão de uma acirrada disputa política, Salvador foi bombardeada com a autorização do então presidente na época Marechal Hermes da Fonseca, que ordenou o lançamento de artilharia pesada no centro da cidade, vinda dos fortes mais próximos (Forte São Marcelo, Forte São Pedro e Forte do Barbalho), destruindo quase totalmente a Biblioteca Pública (e seu acervo estimado na época em 20.000 livros) que ficava anexa ao Palácio do Governo que foi atingido, como também o Teatro São João (que seria demolido depois), a Catedral da Sé (demolida depois para passar as novas linhas de bonde), outros prédios e ainda fazendo vítimas na população. Por sorte nada desta dimensão corre o risco de acontecer nos dias atuais ao menos não desta forma tão explícita, mas a destruição segue sua marcha no Centro Histórico de Salvador.
A ambiência desta época poder ser conhecida através do trabalho da historiadora e professora Maria Antonia Lima Gomes que desenvolveu o projeto "Museu Virtual: Teatro São João", como parte de sua tese de doutorado. Neste museu ela mostra de forma interativa como era Praça Castro Alves e seu entorno no século XIX. É possível ver o prédio onde funcionava o Estúdio de Lidermann, o Teatro e muitos outros edifícios que não existem mais.
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Nota: A imagem do cartão postal pode ser vista na postagem NEXO 13