Uma cartografia em estado embrionário
Fala apresentada no dia 31 de outubro, na Mesa Temática "Arquitetura-diagrama e as cartografias do poder" que integrou a programação do Congresso da UFBA, 2019.
Para se juntar à UFBA em sua expressão alada, feita pelo artista plástico Juarez Paraíso, eu chamo seres que dançam os sons emitidos pela vibração das forças.
As forças que vibram nesta fala vêm da minha pesquisa de doutorado sobre a produção de subjetividade como elemento central na disputa por patrimônio urbano a partir do século XXI onde traço uma visão a partir de Salvador.
Esta pesquisa é feita no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, dentro da linha Conservação e Gestão de Bens Patrimoniais, tem a orientação de Juliana Nery e Ariadne Moraes e o apoio financeiro da CAPES.
Aqui eu estudo de que maneira, a partir do século XXI, entendeu-se que, operar sobre as formas de apreensão do mundo manipulando a cartografia que orienta as potências de ação e reação – ou seja, intervir naquilo que constitui a experiência da subjetividade – se configurou como elemento central nas disputas por gestão, ocupação, uso e transformação do patrimônio urbano nas áreas centrais de valor histórico, manipulando valores simbólicos e identidades associadas a esse patrimônio.
Essas forças ressoam em vibrações paradoxais entre a história construída a partir do um chão enladeirado, do suor, do ferro, da pedra e do fogo, que apontam para a afirmação de vida marcada pela mediação com a natureza, pelo acúmulo do simbólico que insurge a cada ciclo das disputas que desafiam essas formas de vida…
…e a história construída a partir de um desejo de poder sobre a vida, marcada pela possessão das forças à sua frente, pela elevação simbólica dos objetos que celebram seu poder de expropriação a cada ciclo das disputas que forjam esse desejo sobre a vida.
Como eu entro nisso?
Como eu abro uma trincheira nesta disputa?
Primeiro me sintonizo com pessoas cuja postura na vida me acolhe e cujo trabalho me atrai e me transforma, por serem expressões das “práticas atravessadas pelos territórios da micropolítica e configuram-se como resistências criativas, aos processos hegemônicos” (ARIADNE, 2019).
É assim que sinto o trabalho das professoras Ariadne e Thais.
É assim que sinto o trabalho da artista Yuri que me leva para afirmar junto com ela, a existência e a soberania de outros sujeitos-corpos na cidade. Afirmação esta que, por si só, cartografa e interfere critica e construtivamente nas forças e fluxos que atuam no sujeito e no mundo.
Segundo, recorro a vibração da vida em mim que se faz através do desenho, da fotografia e da pesquisa que juntas mediam e expressam a minha forma de relação com o outro e o meu posicionamento no mundo.
É onde em vou de encontro ao que me é “estranho-familiar” (ROLNIK, 2019), ao que agita as forças que vibram em mim.
Esta foto foi feita na dobra Ladeira da Misericórdia que vira para desembocar na Ladeira da Montanha. Mostra uma pequena lagoa que se formou entre os buracos do piso de pedra, que foi cercada pela vegetação e onde há pequenos peixes.
Essa imagem me mostrou o que pode surgir quando na cidade se permite que o tempo se acumule, crie limos, forje uma forma e uma textura, desenvolva seus cheiros e emita seus sons….
A partir dela direcionei minha pesquisa de campo para documentar espaços do Centro Histórico onde o tempo e espaço ainda formam limos, texturas, cheiros e sons próprios. O que segue a partir daqui é uma mostra deste trabalho documental.
Ruínas entre a Ladeira da Misericórdia e a da Montanha. A própria Ladeira da Montanha
Ladeira da Montanha com Ladeira do Corpo Santo
Casa da Águia (ou Centro Cultural da Misericórdia)
Entrada da “Casa da Águia” pela Ladeira da Misericórdia
Entorno da Praça da Inglaterra, Comércio
Agência Central dos Correios, Comércio
Ruína entre a Rua dos Ourives e a Rua Guidaste dos Padres, Comércio
Ladeira do Taboão
Largo de São Miguel, Baixa dos Sapateiros
Terminal de ônibus da Barroquinha
Nesta pesquisa, a cartografia-diagrama, é onde o espaço virtual das relações sociais é mapeado, expondo as forças que constituem o jogo de poder a partir das possibilidades apresentadas pelos sujeitos sociais implicados.
O objetivo analítico da pesquisa é descrever em que consiste, como funciona e como se articulam os indivíduos, inseridos ou não, institucionalmente, em torno de uma questão-chave (ou palavra-chave).
Esta é colocada no centro da rede como disparador das ramificações que o diagrama assumirá a cada nova inserção, que a guiará para novas associações.
A análise é extraída através da configuração que o diagrama apresenta. A desenho diagramático em curso, articula ferramentas tecnopolíticas e etnográficas que capturam os jogos de poder e de forças.
Os primeiros resultados apontam para: mediação dos meios de comunicação dentro das disputas e o seu papel de termômetro do nível de engajamento, resistência, adesão, debates provocados ou não pelas ideias que estes lançam pautados pelo poder público (seja ele União, Estado e Município) ou pelos grandes empreendimentos. Todos sem consulta pública, mas com grande veiculação na mídia. Estou falando aqui da eminente transformação do Palácio Rio Branco em Hotel de Luxo ou coisa parecida, e da obra de reforma na Ladeira da Conceição da Praia onde se pretende implantar uma residência artística, onde há artífices.
O momento seguinte (que se busca) é o de debate com a sociedade dos projetos de interesse público que estão sendo propostos sobre a ocupação, o uso e a gestão do patrimônio urbano da cidade.
Desde modo, a cartografia-diagrama em processo, não encerra e nem remete a um conteúdo específico e fechado. Sua expressão dá lugar a outras formulações…. seja de ideias, de políticas, de disputa, de articulações ou de uma outra realidade por vir.
Vamos dançar?
Referências:
SILVA, Ariadne; VALLADÃO, S. Arquitetura-diagrama e as Cartografias do Poder. Comunicação apresentada no VI Simpósio Interncaional Lavits. Assimetrias e (in) visibilidades: vigilância, gênero e raça. Salvador, 2019.
ROLNIK, Sulely. Esferas da insurreição. Notas para uma vida não cafetinada. São Paulo: N-1 (2ª ed.), 2019.
Para se juntar à UFBA em sua expressão alada, feita pelo artista plástico Juarez Paraíso, eu chamo seres que dançam os sons emitidos pela vibração das forças.
As forças que vibram nesta fala vêm da minha pesquisa de doutorado sobre a produção de subjetividade como elemento central na disputa por patrimônio urbano a partir do século XXI onde traço uma visão a partir de Salvador.
Esta pesquisa é feita no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, dentro da linha Conservação e Gestão de Bens Patrimoniais, tem a orientação de Juliana Nery e Ariadne Moraes e o apoio financeiro da CAPES.
Aqui eu estudo de que maneira, a partir do século XXI, entendeu-se que, operar sobre as formas de apreensão do mundo manipulando a cartografia que orienta as potências de ação e reação – ou seja, intervir naquilo que constitui a experiência da subjetividade – se configurou como elemento central nas disputas por gestão, ocupação, uso e transformação do patrimônio urbano nas áreas centrais de valor histórico, manipulando valores simbólicos e identidades associadas a esse patrimônio.
Essas forças ressoam em vibrações paradoxais entre a história construída a partir do um chão enladeirado, do suor, do ferro, da pedra e do fogo, que apontam para a afirmação de vida marcada pela mediação com a natureza, pelo acúmulo do simbólico que insurge a cada ciclo das disputas que desafiam essas formas de vida…
…e a história construída a partir de um desejo de poder sobre a vida, marcada pela possessão das forças à sua frente, pela elevação simbólica dos objetos que celebram seu poder de expropriação a cada ciclo das disputas que forjam esse desejo sobre a vida.
Como eu entro nisso?
Como eu abro uma trincheira nesta disputa?
Primeiro me sintonizo com pessoas cuja postura na vida me acolhe e cujo trabalho me atrai e me transforma, por serem expressões das “práticas atravessadas pelos territórios da micropolítica e configuram-se como resistências criativas, aos processos hegemônicos” (ARIADNE, 2019).
É assim que sinto o trabalho das professoras Ariadne e Thais.
É assim que sinto o trabalho da artista Yuri que me leva para afirmar junto com ela, a existência e a soberania de outros sujeitos-corpos na cidade. Afirmação esta que, por si só, cartografa e interfere critica e construtivamente nas forças e fluxos que atuam no sujeito e no mundo.
Segundo, recorro a vibração da vida em mim que se faz através do desenho, da fotografia e da pesquisa que juntas mediam e expressam a minha forma de relação com o outro e o meu posicionamento no mundo.
É onde em vou de encontro ao que me é “estranho-familiar” (ROLNIK, 2019), ao que agita as forças que vibram em mim.
Esta foto foi feita na dobra Ladeira da Misericórdia que vira para desembocar na Ladeira da Montanha. Mostra uma pequena lagoa que se formou entre os buracos do piso de pedra, que foi cercada pela vegetação e onde há pequenos peixes.
Essa imagem me mostrou o que pode surgir quando na cidade se permite que o tempo se acumule, crie limos, forje uma forma e uma textura, desenvolva seus cheiros e emita seus sons….
A partir dela direcionei minha pesquisa de campo para documentar espaços do Centro Histórico onde o tempo e espaço ainda formam limos, texturas, cheiros e sons próprios. O que segue a partir daqui é uma mostra deste trabalho documental.
Ruínas entre a Ladeira da Misericórdia e a da Montanha. A própria Ladeira da Montanha
Ladeira da Montanha com Ladeira do Corpo Santo
Casa da Águia (ou Centro Cultural da Misericórdia)
Entrada da “Casa da Águia” pela Ladeira da Misericórdia
Entorno da Praça da Inglaterra, Comércio
Agência Central dos Correios, Comércio
Ruína entre a Rua dos Ourives e a Rua Guidaste dos Padres, Comércio
Ladeira do Taboão
Largo de São Miguel, Baixa dos Sapateiros
Terminal de ônibus da Barroquinha
Nesta pesquisa, a cartografia-diagrama, é onde o espaço virtual das relações sociais é mapeado, expondo as forças que constituem o jogo de poder a partir das possibilidades apresentadas pelos sujeitos sociais implicados.
O objetivo analítico da pesquisa é descrever em que consiste, como funciona e como se articulam os indivíduos, inseridos ou não, institucionalmente, em torno de uma questão-chave (ou palavra-chave).
Esta é colocada no centro da rede como disparador das ramificações que o diagrama assumirá a cada nova inserção, que a guiará para novas associações.
A análise é extraída através da configuração que o diagrama apresenta. A desenho diagramático em curso, articula ferramentas tecnopolíticas e etnográficas que capturam os jogos de poder e de forças.
Os primeiros resultados apontam para: mediação dos meios de comunicação dentro das disputas e o seu papel de termômetro do nível de engajamento, resistência, adesão, debates provocados ou não pelas ideias que estes lançam pautados pelo poder público (seja ele União, Estado e Município) ou pelos grandes empreendimentos. Todos sem consulta pública, mas com grande veiculação na mídia. Estou falando aqui da eminente transformação do Palácio Rio Branco em Hotel de Luxo ou coisa parecida, e da obra de reforma na Ladeira da Conceição da Praia onde se pretende implantar uma residência artística, onde há artífices.
O momento seguinte (que se busca) é o de debate com a sociedade dos projetos de interesse público que estão sendo propostos sobre a ocupação, o uso e a gestão do patrimônio urbano da cidade.
Desde modo, a cartografia-diagrama em processo, não encerra e nem remete a um conteúdo específico e fechado. Sua expressão dá lugar a outras formulações…. seja de ideias, de políticas, de disputa, de articulações ou de uma outra realidade por vir.
Vamos dançar?
Referências:
SILVA, Ariadne; VALLADÃO, S. Arquitetura-diagrama e as Cartografias do Poder. Comunicação apresentada no VI Simpósio Interncaional Lavits. Assimetrias e (in) visibilidades: vigilância, gênero e raça. Salvador, 2019.
ROLNIK, Sulely. Esferas da insurreição. Notas para uma vida não cafetinada. São Paulo: N-1 (2ª ed.), 2019.