MULHERES. A HISTÓRIA ILUSTRADA DE UMA EXPOSIÇÃO
A exposição MULHERES foi desmontada depois de passar por muitas
aventuras. Começou com sua produção sobre onde fazer, como pensar um expografia para o tema, quem falaria sobre... depois de soltar esses questões no destino as respostas começaram a aparecer.
O local foi a Bardos Bardos - Casa da Trinca, depois de um contato vapt vupt com o incrível Tony Lopes (musico e compositor) que também ajudou a pensar a expografia; o texto de apresentação foi inspirado e escrito pela queridona Ariadne Moraes (arquiteta urbanista); a captação de doações para bancar a exposição veio com a generosidade e confiança de Ariadne Morais (mais uma vez) Gabriela Nascimento, Cátyna Cerqueira, Fernanda Azevedo, Ismine Lima e Damile Menezes.
Montada em 09 de fevereiro de 2019, encerrada em 13 de março (a previsão era 08 de março) e, finalmente desmontada em 25 de abril deste mesmo ano, a exposição ganhou gosto pela Casa da qual agora é acervo, e que consiste em: 25 (vinte e cinco) desenhos digitais, feitos à mão direto na tela, sem pós-produção, com em impressão fotográfica sobre adesivo de vinil, fixados em papel cartão preto, tamanhos (com o cartão): 34x24 cm (formato paisagem) e 20x28cm (formato retrato).
Os desenhos no letreiro luminoso são temporários e pertenciam a uma série que complementou a ideia da exposição graças a iniciativa de Tony, que sugeriu usar também este espaço.
Os vídeos, mais abaixo, começaram como sugestão de Ariadne para registrar como eram feitos os desenhos. Uma vez que foram desenhados direto na tela, foi possível gravar pela tela mesmo, todo o processo.
Making of de um dos desenhos com narração de Ariadne Moraes
MULHERES
Texto: Ariadne Moraes
Em uma carta de Lygia Clark à Mondrian, ela revelava: “hoje me sinto
mais solitária do que ontem”. Nesses escritos ela sussurrava sua
teimosia e necessidade de transmitir, para o outro, aquilo que escapa.
Ao desenhar as vibrações e a dinâmica da vida humana, o artista
ultrapassa a pura sensação visual e captura o invisível, tornando-o
visível. E de um “vazio-pleno”, aquarelado pelo silêncio da noite ou
pela luminosidade do dia, eis que surgem as forças do tempo.
Um tempo de encontro e de conquista, um tempo emaranhado, não-linear e
não reconciliado. Um tempo mais lento, revelado pelo desejo de
experimentar, apropriar e devorar tudo aquilo que pulsa nas beiradas e
nas margens de sua superfície.
É na rua, em seu estado de deriva, que o corpo vibra em todas as
frequências possíveis e reinventa posições para capturar sons, cheiros,
texturas, aromas e canais de passagem. Incluídas e excluídas ao mesmo
tempo em sobreposições que expandem a própria vida, a mulher
contemporânea tece seus territórios existenciais. Seu corpo biopolítico
passa a ser atravessado por todos os tipos de representações, modulações
e micropoderes, mas ela anseia esquivar-se de qualquer repouso passivo e
cobiça explorar, ativamente, todos os elementos que pulsam nas novas
fronteiras da polis.
A mulher quer é se entregar, de corpo, alma e língua! Esse corpo
feminino não quer seguir nenhuma espécie de protocolo normatizado, ele
está ávido por fazer valer a sua intuição em estado bruto. O corpo
vibrátil quer penetrar o movimento que rompe as tensões, as linhas e os
fluxos frenéticos das paisagens contemporâneas e desorientar ainda mais
suas cartografias.
Ela não é objeto ou trapo que simplesmente sobrevive nesse mar de
pós-modernidade. Ela gostaria de ser como um antropófago que engole e
lambe as cidades em doses nada homeopáticas. Ela carrega no seu âmago o
espectro da mulher selvagem, não domesticada, não submissa.
A mulher não quer apenas emancipar-se, mas reinventar o próprio devir
urbano, intervindo e agindo sobre essa porosidade, desativando, mesmo
que momentaneamente, esse dispositivo de agenciamento... e fugir das
armadilhas, fazendo de seu corpo enaltecido pelo elo mais profundo de
sua própria pele, o lugar das resistências e das transcendências.
Como restaurar as ruínas do mundo subterrâneo feminino, se não através
de sua epiderme transnudada em devir-animal efêmero que, hoje, habita as
ruas de nossas cidades civilizadas, genéricas e padronizadas?
Assim como a querida e potente Lygia, o coração dessa criatura ainda é
solitário e, ao mesmo tempo, forte e instintivo em seu máximo vigor à
guisa de uma sensível loba. Sua pele precisa de aconchego e significado.
Ela se cobre. Ela se veste. Ela se protege. Ela se descobre. Ela se
expõe.
Ela quer labuta e tem fome de vida!
As apaixonantes experimentações criadas por Solange Valladão, trazendo
com toda potência desenhos em que se desnudam os corpos femininos, me
lembram o orvalho da chuva... uma chuva que molha a flor que nasce da
areia ou do asfalto. Uma flor que brota e que explode do submundo para
encontrar no corpo dessa mulher o seu refúgio e a sua redenção.
Palhinha do encerramento em 13 de março de 2019 com a cantora Marcela Lobato
Despedidas finais com os registro que um monte de gente fez (Tony Lopes, Marcela Lobato, Ana Paula Albuquerque, Tom Lopes e Luciana Boulhosa... ), desculpa não ter todos nos nomes de quem fotografou e nem fotos das pessoas que foram na abertura e encerramento da exposição, mas... grata!!!
E com vocês... MULHERES