DOIS ARTÍSTAS
Esta semana, por caminhos diferentes, conheci dois artistas.
Nenhum deles pessoalmente, o que é uma pena. Um ainda é possível, o outro não.
O que ainda é possível se chama Hélio Leites e chegou a mim como mensagem do Whatsapp - ainda acho engraçado falar desse aplicativo desajeitado, invasivo e toda essa coisa muderna da modernidade que eu adoro futucar um tempo, aquele onde as coisas são novidade, mas não gosto de me apegar... deve ser essa sina de ser um aquário com ascendente aquário que rege as minhas preferências.
A mensagem foi enviada por uma amiga sinalizando para eu prestar atenção em uma frase que ele dizia no vídeo que estava junto a mensagem. A frase foi a seguinte: "Se pegar esse aparelho aqui ó [o corpo da gente], que pisca, que ri, que chora, e botar ele para trabalhar em uma coisa que ele não gosta, é um desserviço para o espírito".
Foram procurar o Hélio Leites pra ele responder o que é tristeza e fizeram esse video, que é um primor, tão primoroso que a incrível e perfeita trilha sonora é original, feita por Fê Sztok e André Saito - está nos créditos do vídeo, que é de 2010. Uma melodia que parece ser feita da voz de Hélio e do seu jeito de falar, com uma alegria vinda do mundo dos que se sentem livres, que tem um ritmo que eu, na minha limitação sobre como classificar ritmos musicais, chamaria de algo tipo gipsy - aquela batida ritmada de violão que se ouve em musica cigana, sabe?
O vídeo, um documentário, é parte do projeto "Thomás Tristonho", que é um filme curta-metragem. E como parte do trabalho de produção do filme, foram coletados depoimentos de alguns artistas que respondem a mesma pergunta feita ao Hélio. Mas Hélio, não à toa, ganhou um destaque evidente no site do projeto, entre os demais depoimentos, cada qual da sua forma também bonito. A prova disso é que uma frase que ele diz no vídeo, foi parar, estampar, a camiseta que está entre os produtos do projeto. A frase é "denda gente", que é onde ele diz que é o lugar certo aonde devemos procurar serviço quando estamos desempregados.
O diferencial do depoimento dele para mim é a sensação de que ele fala realmente com a gente e fala com o coração, com o que ele sente na alma, procurando responder de dentro de si mesmo. E para isso, ele toma um caminho de simplicidade e de conhecimento das coisas da vida, que faz a gente se sentir uma criança no colo de tão acolhido.
Hélio Leites é do Paraná. A arte dele é fazer, mundos, pessoas, bichos, coisas da vida deste e do outro mundo, em miniatura. Usa como matéria prima palitos de picolé, caixas de fósforo, o que acha pela rua ou que foi pro lixo e, em tudo, coloca muitas cores lindas, desenhinhos e letrinhas formando frases, palavras, pensamentos, numa combinação tão estonteante quanto delicada.
Só conheci seu trabalho pelo vídeo que minha amiga mandou, por imagens que pesquisei na internet e outros vídeos também. Entre os que vi, eu me apaixonei perdidamente por este trabalho aqui.
É uma coisa meio enlouquecedora isso de ver as etapas de como o palito de picolé vira uma arara perfeita, linda, mínima, muito colorida e ainda posa pra gente! E é um broxe! Ou como ele diz em alguma de suas entrevistas, um sinalizador de TPM - quando algumas de nós mulheres ficamos como se diz "uma arara".
O vídeo que minha amiga me mandou.
A página do projeto Tomás Tristonho.
Dois textos muito bons sobre Hélio Leites e seu trabalho:
Blog Experimente ser Criativo (aqui tem também o video!)
Blog Pasquim Cultural
O outro artista, o que não é mais possível conhecer pessoalmente, é Félix Vallotton.
O caminho que trouxe o trabalho dele até meu conhecimento foi indireto, sem recomendação. Eu reúno na página inicial do navegador que acesso a internet, uma série de páginas de bibliotecas de várias coisas, ou de páginas especializadas em algum assunto ou pessoa, normalmente artistas. Entre estas páginas está a do Museu Van Gogh em Amsterdã. É um primor de página da internet, inclusive na versão que acesso pelo celular. Nela é possível ler (em inglês) muitas coisas sobre a vida e a obra de Van Gogh e, a maravilha total, baixar em boa resolução as imagens de suas obras. Já tenho um bom número delas em uma pasta para o dia que puder imprimir e colocar em quadrinhos na parede fazendo uma mini galeria em algum lugar, provavelmente meu quarto.
É surpreendente a obra de Van Gogh para além daquelas mais conhecidas, quando se conhece ele. A surpresa vem não só nos temas como também no estilo.
Na página do Museu tem no menu o link "Meet Vincent" (Encontre Vincent) e nele o tesouro "Explore the colletion" (Explore a coleção). Ai é que uma pessoa enlouquece com o que surge de opções: pinturas e desenhos de Van Gogh, artistas amigos, artistas franceses contemporâneos, influências chaves, impressos franceses e impressos japoneses.
Eu tenho uma paixão por impressos baseados na técnica de gravura de todo tipo, especialmente em xilogravura (quando a base onde é feito o desenho que vai ser impresso é de madeira). O primeiro artista que conheci nessa arte, foi Osvaldo Goeldi através de um livro que consegui em um sebo, trocando por outro importante que tinha ganhado de presente, que foi uma edição em alemão (nessa época eu já falava alemão e bem melhor do que agora) da bíblia dos arquitetos, conhecida resumidamente como Neufert (se pronúncia nóifer, acho que o t é quase mudo). Mesmo adorando este livro e com o valor sentimental que ele tinha, não resisti quando vi no sebo que frequentava, uma edição do livro Recordações da Casa dos Mortos, obra prima de Fiodor Dostoiévski.
É uma daquelas edições especiais, numeradas de 01 a 150 - o meu é o número 50, que orgulho! - edição para bibliófilos, em papel Bouffant, extra creme, com xilogravuras de Osvaldo Goeldi e publicado em 1945 (!) pela editora José Olympio. Foi amor à primeira vista, pois já era apaixonada pela obra de Dostoiévski, que lia emprestado de um colega que pegava encondido da tia os volumes da coleção completa e ia me emprestando - lamentavelmente, a tia descobriu a coisa toda no final do volume dois dos quatro volumes que formam essa coleção da Editora Nova Aguilar, que comprei muitos e muitos anos depois.
Assim como na fotografia, eu tenho uma paixão por desenhos em preto e branco, com contrastes fortes ou suaves. No colorido, seja fotografia, pintura ou desenho, gosto das cores fortes, contrastantes que desafiam a lógica das combinações harmônicas para demonstrar um unsual e apurado senso estético.
Foi assim, em um pequeno painél com algumas obras da coleção de impressos franceses, do final do século XIX, exibidas na página do Museu Van Gogh, que uma gravura me chamou muito a atenção e era de Félix Vallotton.
A gravura se chama "Fogos de artifício" e mostra uma multidão assistindo a essa explosão de fogos. É o tipo de cena que a gente está acostumada a ver no mais colorido possível para realçar toda a gama de cores que se formam durante a explosão dos fogos até sumirem no céu. Mas a cena de Vallotton é em absoluto preto e branco, sem qualquer meio tom e é incrivelmente simples, forte e linda. E o mais incrível, tem a emoção dos fogos no rosto das pessoas, da multidão que assiste, como nas festas de fim de ano na praia, sabe? Essa foi a sensação que tive. Mas essa gravura pertence a uma série que ele fez sobre a Exposição Universal em Paris que aconteceu em 1900. O museu tem 06 obras desta série.
Vasculhei tudo sobre Vallotton desde então no site do museu e em outras bibliotecas virtuais que acesso. A obra dele em pintura também é incrível, mas eu fiquei mesmo fascinada nas séries de gravuras que ele realizou.
Ele era suíço e foi considerado já na sua época um artista inovador na técnica da gravura com madeira, que ele trabalhava quase exclusivamente em preto e branco. São marcas nos temas de seu trabalho, a crítica social forte, mas com um toque de humor. E a gente só entende como isso funciona vendo essas peças.
A série mais incrível é "Intinidades" com cenas de casais e também a série "Instrumentos de música", com músicos ensaiando com seus instrumentos.
Na biblioteca virtual "Internet Archieve", encontrei uma pérola! É uma edição bilíngue, alemão e francês...certo, é uma meia pérola para saber mais sobre o artista, fui arranhando meu alemão por lá e a coisa tá devagar ainda, quando avançar mais, volto aqui para contar o que descobri. Mas a pérola para todos nós, é que no final tem uma mostra incrível de suas gravuras. A mostra começa com gravuras de rosto de pessoas conhecidas como Napeleão, um autoretrato e rosto de artistas como Baudeleire e, acreditem, Dostoiévski!
Nenhum deles pessoalmente, o que é uma pena. Um ainda é possível, o outro não.
O que ainda é possível se chama Hélio Leites e chegou a mim como mensagem do Whatsapp - ainda acho engraçado falar desse aplicativo desajeitado, invasivo e toda essa coisa muderna da modernidade que eu adoro futucar um tempo, aquele onde as coisas são novidade, mas não gosto de me apegar... deve ser essa sina de ser um aquário com ascendente aquário que rege as minhas preferências.
A mensagem foi enviada por uma amiga sinalizando para eu prestar atenção em uma frase que ele dizia no vídeo que estava junto a mensagem. A frase foi a seguinte: "Se pegar esse aparelho aqui ó [o corpo da gente], que pisca, que ri, que chora, e botar ele para trabalhar em uma coisa que ele não gosta, é um desserviço para o espírito".
Foram procurar o Hélio Leites pra ele responder o que é tristeza e fizeram esse video, que é um primor, tão primoroso que a incrível e perfeita trilha sonora é original, feita por Fê Sztok e André Saito - está nos créditos do vídeo, que é de 2010. Uma melodia que parece ser feita da voz de Hélio e do seu jeito de falar, com uma alegria vinda do mundo dos que se sentem livres, que tem um ritmo que eu, na minha limitação sobre como classificar ritmos musicais, chamaria de algo tipo gipsy - aquela batida ritmada de violão que se ouve em musica cigana, sabe?
O vídeo, um documentário, é parte do projeto "Thomás Tristonho", que é um filme curta-metragem. E como parte do trabalho de produção do filme, foram coletados depoimentos de alguns artistas que respondem a mesma pergunta feita ao Hélio. Mas Hélio, não à toa, ganhou um destaque evidente no site do projeto, entre os demais depoimentos, cada qual da sua forma também bonito. A prova disso é que uma frase que ele diz no vídeo, foi parar, estampar, a camiseta que está entre os produtos do projeto. A frase é "denda gente", que é onde ele diz que é o lugar certo aonde devemos procurar serviço quando estamos desempregados.
O diferencial do depoimento dele para mim é a sensação de que ele fala realmente com a gente e fala com o coração, com o que ele sente na alma, procurando responder de dentro de si mesmo. E para isso, ele toma um caminho de simplicidade e de conhecimento das coisas da vida, que faz a gente se sentir uma criança no colo de tão acolhido.
Hélio Leites é do Paraná. A arte dele é fazer, mundos, pessoas, bichos, coisas da vida deste e do outro mundo, em miniatura. Usa como matéria prima palitos de picolé, caixas de fósforo, o que acha pela rua ou que foi pro lixo e, em tudo, coloca muitas cores lindas, desenhinhos e letrinhas formando frases, palavras, pensamentos, numa combinação tão estonteante quanto delicada.
Só conheci seu trabalho pelo vídeo que minha amiga mandou, por imagens que pesquisei na internet e outros vídeos também. Entre os que vi, eu me apaixonei perdidamente por este trabalho aqui.
É uma coisa meio enlouquecedora isso de ver as etapas de como o palito de picolé vira uma arara perfeita, linda, mínima, muito colorida e ainda posa pra gente! E é um broxe! Ou como ele diz em alguma de suas entrevistas, um sinalizador de TPM - quando algumas de nós mulheres ficamos como se diz "uma arara".
O vídeo que minha amiga me mandou.
A página do projeto Tomás Tristonho.
Dois textos muito bons sobre Hélio Leites e seu trabalho:
Blog Experimente ser Criativo (aqui tem também o video!)
Blog Pasquim Cultural
O outro artista, o que não é mais possível conhecer pessoalmente, é Félix Vallotton.
O caminho que trouxe o trabalho dele até meu conhecimento foi indireto, sem recomendação. Eu reúno na página inicial do navegador que acesso a internet, uma série de páginas de bibliotecas de várias coisas, ou de páginas especializadas em algum assunto ou pessoa, normalmente artistas. Entre estas páginas está a do Museu Van Gogh em Amsterdã. É um primor de página da internet, inclusive na versão que acesso pelo celular. Nela é possível ler (em inglês) muitas coisas sobre a vida e a obra de Van Gogh e, a maravilha total, baixar em boa resolução as imagens de suas obras. Já tenho um bom número delas em uma pasta para o dia que puder imprimir e colocar em quadrinhos na parede fazendo uma mini galeria em algum lugar, provavelmente meu quarto.
É surpreendente a obra de Van Gogh para além daquelas mais conhecidas, quando se conhece ele. A surpresa vem não só nos temas como também no estilo.
Na página do Museu tem no menu o link "Meet Vincent" (Encontre Vincent) e nele o tesouro "Explore the colletion" (Explore a coleção). Ai é que uma pessoa enlouquece com o que surge de opções: pinturas e desenhos de Van Gogh, artistas amigos, artistas franceses contemporâneos, influências chaves, impressos franceses e impressos japoneses.
Eu tenho uma paixão por impressos baseados na técnica de gravura de todo tipo, especialmente em xilogravura (quando a base onde é feito o desenho que vai ser impresso é de madeira). O primeiro artista que conheci nessa arte, foi Osvaldo Goeldi através de um livro que consegui em um sebo, trocando por outro importante que tinha ganhado de presente, que foi uma edição em alemão (nessa época eu já falava alemão e bem melhor do que agora) da bíblia dos arquitetos, conhecida resumidamente como Neufert (se pronúncia nóifer, acho que o t é quase mudo). Mesmo adorando este livro e com o valor sentimental que ele tinha, não resisti quando vi no sebo que frequentava, uma edição do livro Recordações da Casa dos Mortos, obra prima de Fiodor Dostoiévski.
É uma daquelas edições especiais, numeradas de 01 a 150 - o meu é o número 50, que orgulho! - edição para bibliófilos, em papel Bouffant, extra creme, com xilogravuras de Osvaldo Goeldi e publicado em 1945 (!) pela editora José Olympio. Foi amor à primeira vista, pois já era apaixonada pela obra de Dostoiévski, que lia emprestado de um colega que pegava encondido da tia os volumes da coleção completa e ia me emprestando - lamentavelmente, a tia descobriu a coisa toda no final do volume dois dos quatro volumes que formam essa coleção da Editora Nova Aguilar, que comprei muitos e muitos anos depois.
Assim como na fotografia, eu tenho uma paixão por desenhos em preto e branco, com contrastes fortes ou suaves. No colorido, seja fotografia, pintura ou desenho, gosto das cores fortes, contrastantes que desafiam a lógica das combinações harmônicas para demonstrar um unsual e apurado senso estético.
Foi assim, em um pequeno painél com algumas obras da coleção de impressos franceses, do final do século XIX, exibidas na página do Museu Van Gogh, que uma gravura me chamou muito a atenção e era de Félix Vallotton.
A gravura se chama "Fogos de artifício" e mostra uma multidão assistindo a essa explosão de fogos. É o tipo de cena que a gente está acostumada a ver no mais colorido possível para realçar toda a gama de cores que se formam durante a explosão dos fogos até sumirem no céu. Mas a cena de Vallotton é em absoluto preto e branco, sem qualquer meio tom e é incrivelmente simples, forte e linda. E o mais incrível, tem a emoção dos fogos no rosto das pessoas, da multidão que assiste, como nas festas de fim de ano na praia, sabe? Essa foi a sensação que tive. Mas essa gravura pertence a uma série que ele fez sobre a Exposição Universal em Paris que aconteceu em 1900. O museu tem 06 obras desta série.
Vasculhei tudo sobre Vallotton desde então no site do museu e em outras bibliotecas virtuais que acesso. A obra dele em pintura também é incrível, mas eu fiquei mesmo fascinada nas séries de gravuras que ele realizou.
Ele era suíço e foi considerado já na sua época um artista inovador na técnica da gravura com madeira, que ele trabalhava quase exclusivamente em preto e branco. São marcas nos temas de seu trabalho, a crítica social forte, mas com um toque de humor. E a gente só entende como isso funciona vendo essas peças.
A série mais incrível é "Intinidades" com cenas de casais e também a série "Instrumentos de música", com músicos ensaiando com seus instrumentos.
Na biblioteca virtual "Internet Archieve", encontrei uma pérola! É uma edição bilíngue, alemão e francês...certo, é uma meia pérola para saber mais sobre o artista, fui arranhando meu alemão por lá e a coisa tá devagar ainda, quando avançar mais, volto aqui para contar o que descobri. Mas a pérola para todos nós, é que no final tem uma mostra incrível de suas gravuras. A mostra começa com gravuras de rosto de pessoas conhecidas como Napeleão, um autoretrato e rosto de artistas como Baudeleire e, acreditem, Dostoiévski!